Sobre o Debate Entre Silas Malafaia e Iris Bernardi

No último dia 24 de Fevereiro, foi transmitido em rede nacional um debate sobre o polêmico projeto de lei sobre o crime de homofobia, no Programa do Ratinho, na SBT. O debate foi travado entre duas “personalidades” na questão: defendendo o projeto de lei, a ex-deputada Iara Bernardi, a própria autora do projeto; criticando o projeto de lei, o pastor Silas Malafaia, um dos mais famosos pastores do Brasil, e declaradamente crítico desta lei.
Pretendo neste texto apresentar alguns comentários sobre o debate, bem como alguns vislumbres sobre o projeto de lei. Entenda este texto, se quiser, como uma resenha crítica ao debate apresentado. Caso você não tenha o visto ainda, os vídeos podem ser assistidos no Youtube.
A verdade é que o debate em si foi horroroso. “Programa do Ratinho” é um lugar de baderna, de baixaria, de “quebra pau”. A platéia e o público deste programa desejam ver não debates de idéias, mas discussões, gritaria, humilhação alheia, etc. É inegável a importância de trazer este debate para mais próximo da população, como em um programa de TV aberta, mas isto deve ser feito em um lugar propício para debates sérios e com moderadores que saibam, efetivamente, conduzir um debate.
Sobre a participação dos debatedores, e sobre “quem venceu” o debate, está se dizendo por aí (especialmente entre os evangélicos) que Silas Malafaia venceu o debate com sobras, o que é mentira. Silas Malafaia gritou mais, esbravejou mais, bem como foi mais rude e sem educação. Mas isto de forma alguma implica vitória.
Para ilustrar meu ponto imagine um jogo de xadrez entre você e um galo. O objetivo de um jogo de xadrez é e sempre será derrubar o Rei do adversário, até mesmo se você jogar contra um galo. O que vai acontecer é que, apesar de você ter mais inteligência que o galo, o animal vai bater as asas, subir em cima do tabuleiro, derrubar todas as suas peças (inclusive o rei) e depois sair “cantando de galo”, como se tivesse vencido o jogo.
Foi exatamente o mesmo neste debate: Silas Malafaia gritou mais; veio com duas dúzias de frases de efeito decoradas; interrompeu a ex-deputada sempre que pôde; levou a discussão para um campo que lhe proporcionaria vantagem; demonstrou sua total falta de decoro; debateu gritando, como se tivesse em um bar; e, obviamente, como o Programa do Ratinho é um programa de baixarias e gritarias, o pastor Silas “levou a melhor”. O próprio Ratinho “elogiou” Silas ao final do debate, dizendo, “Estou torcendo pra você continuar só neste negócio de pastor senão você toma meu lugar”.
Se o debate tivesse ocorrido em uma arena mais propícia, com tempos estipulados para ambos debatedores, com regras de decoro e conduta, com possibilidades de pergunta e resposta, com punições a ataques pessoais, com uma boa moderação, enfim, se o debate tivesse sido um debate de fato, o resultado seria provavelmente outro. É possível que até mesmo o Silas venceria (já que vários pontos levantados por ele são pertinentes), mas não seria certamente a vergonha que vimos na TV semana passada.
Quanto à controvérsia que gerou o debate em questão, eu ainda não cheguei a uma conclusão definitiva sobre este projeto de lei. Ora tendo a aceitá-lo, ora tenho resistência a ele. O pr. Silas Malafaia foi muito inteligente ao expor a agenda por trás deste projeto, mostrando que se deseja aprová-lo de qualquer forma, por quaisquer meios, deixando a controvérsia longe da opinião pública.
Dizer que este projeto se faz necessário porque “a cada três dias um homossexual morre por homofobia” é uma piada. Isto significa que temos 121 mortes de homossexuais por ano, por causa de preconceito. Vamos a alguns casos “por ano” no Brasil: o tabagismo mata 200 mil fumantes por ano (também mata 2 mil e 600 não fumantes); acidentes de trânsito matam 40 mil por ano; doenças cardiovasculares matam 300 mil por ano; acidentes de trabalho causam 3 mil mortes por ano. A se julgar pelos números, até mesmo a gripe é mais perigosa que o “preconceito”, pois ela matou em 2008 763 pessoas.
Os homossexuais afirmam representar algo em torno de 10% da população. Se este for o caso, temos cerca de 18 milhões de homossexuais no país, e deste grupo 121 são assassinatos por ano. Isto significa 0,000007% de mortes. Nada mais insignificante. Talvez unha encravada mate mais que “homofobia”.
Mas isto não quer dizer que nada deve ser feito. O Estado brasileiro é laico, portanto não pode pressupor nenhuma crença religiosa. Isto não significa que o Estado deve ser ateu, mas um Estado neutro, que legisla buscando atender o maior número possível de pessoas. Aos olhos do Estado, um homossexual é tão cidadão quanto qualquer hetero, e deve lhe ser garantido os mesmos direitos que os heteros possuem.
A verdade é que apesar do número de assassinatos/ano serem pequenos, no dia a dia os homossexuais são alvos, sim, de preconceitos. E não apenas os homossexuais, os índios e os ciganos são outra parcela pequena da população que sofrem por causa do preconceito dos “normais”. E se estes grupos sofrem por preconceito, deve-se criar mecanismo que inibam esta prática ao máximo. Portanto, mesmo que a PL 122 não seja o mecanismo a ser usado, alguma coisa deve ser feita.
E mais importante, o debate deve estar ao alcance da população, pois o Estado nada mais é do que uma representação dela. Mas, convenhamos, nada de Programa do Ratinho...
Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.
Pretendo neste texto apresentar alguns comentários sobre o debate, bem como alguns vislumbres sobre o projeto de lei. Entenda este texto, se quiser, como uma resenha crítica ao debate apresentado. Caso você não tenha o visto ainda, os vídeos podem ser assistidos no Youtube.
A verdade é que o debate em si foi horroroso. “Programa do Ratinho” é um lugar de baderna, de baixaria, de “quebra pau”. A platéia e o público deste programa desejam ver não debates de idéias, mas discussões, gritaria, humilhação alheia, etc. É inegável a importância de trazer este debate para mais próximo da população, como em um programa de TV aberta, mas isto deve ser feito em um lugar propício para debates sérios e com moderadores que saibam, efetivamente, conduzir um debate.
Sobre a participação dos debatedores, e sobre “quem venceu” o debate, está se dizendo por aí (especialmente entre os evangélicos) que Silas Malafaia venceu o debate com sobras, o que é mentira. Silas Malafaia gritou mais, esbravejou mais, bem como foi mais rude e sem educação. Mas isto de forma alguma implica vitória.
Para ilustrar meu ponto imagine um jogo de xadrez entre você e um galo. O objetivo de um jogo de xadrez é e sempre será derrubar o Rei do adversário, até mesmo se você jogar contra um galo. O que vai acontecer é que, apesar de você ter mais inteligência que o galo, o animal vai bater as asas, subir em cima do tabuleiro, derrubar todas as suas peças (inclusive o rei) e depois sair “cantando de galo”, como se tivesse vencido o jogo.
Foi exatamente o mesmo neste debate: Silas Malafaia gritou mais; veio com duas dúzias de frases de efeito decoradas; interrompeu a ex-deputada sempre que pôde; levou a discussão para um campo que lhe proporcionaria vantagem; demonstrou sua total falta de decoro; debateu gritando, como se tivesse em um bar; e, obviamente, como o Programa do Ratinho é um programa de baixarias e gritarias, o pastor Silas “levou a melhor”. O próprio Ratinho “elogiou” Silas ao final do debate, dizendo, “Estou torcendo pra você continuar só neste negócio de pastor senão você toma meu lugar”.
Se o debate tivesse ocorrido em uma arena mais propícia, com tempos estipulados para ambos debatedores, com regras de decoro e conduta, com possibilidades de pergunta e resposta, com punições a ataques pessoais, com uma boa moderação, enfim, se o debate tivesse sido um debate de fato, o resultado seria provavelmente outro. É possível que até mesmo o Silas venceria (já que vários pontos levantados por ele são pertinentes), mas não seria certamente a vergonha que vimos na TV semana passada.
Quanto à controvérsia que gerou o debate em questão, eu ainda não cheguei a uma conclusão definitiva sobre este projeto de lei. Ora tendo a aceitá-lo, ora tenho resistência a ele. O pr. Silas Malafaia foi muito inteligente ao expor a agenda por trás deste projeto, mostrando que se deseja aprová-lo de qualquer forma, por quaisquer meios, deixando a controvérsia longe da opinião pública.
Dizer que este projeto se faz necessário porque “a cada três dias um homossexual morre por homofobia” é uma piada. Isto significa que temos 121 mortes de homossexuais por ano, por causa de preconceito. Vamos a alguns casos “por ano” no Brasil: o tabagismo mata 200 mil fumantes por ano (também mata 2 mil e 600 não fumantes); acidentes de trânsito matam 40 mil por ano; doenças cardiovasculares matam 300 mil por ano; acidentes de trabalho causam 3 mil mortes por ano. A se julgar pelos números, até mesmo a gripe é mais perigosa que o “preconceito”, pois ela matou em 2008 763 pessoas.
Os homossexuais afirmam representar algo em torno de 10% da população. Se este for o caso, temos cerca de 18 milhões de homossexuais no país, e deste grupo 121 são assassinatos por ano. Isto significa 0,000007% de mortes. Nada mais insignificante. Talvez unha encravada mate mais que “homofobia”.
Mas isto não quer dizer que nada deve ser feito. O Estado brasileiro é laico, portanto não pode pressupor nenhuma crença religiosa. Isto não significa que o Estado deve ser ateu, mas um Estado neutro, que legisla buscando atender o maior número possível de pessoas. Aos olhos do Estado, um homossexual é tão cidadão quanto qualquer hetero, e deve lhe ser garantido os mesmos direitos que os heteros possuem.
A verdade é que apesar do número de assassinatos/ano serem pequenos, no dia a dia os homossexuais são alvos, sim, de preconceitos. E não apenas os homossexuais, os índios e os ciganos são outra parcela pequena da população que sofrem por causa do preconceito dos “normais”. E se estes grupos sofrem por preconceito, deve-se criar mecanismo que inibam esta prática ao máximo. Portanto, mesmo que a PL 122 não seja o mecanismo a ser usado, alguma coisa deve ser feita.
E mais importante, o debate deve estar ao alcance da população, pois o Estado nada mais é do que uma representação dela. Mas, convenhamos, nada de Programa do Ratinho...
Eliel Vieira
eliel@elielvieira.org

DESCONSTRUINDO por Eliel Vieira está licenciado sob Creative Commons Attribution.
10 comentários:
Eliel, paz!
1 de março de 2010 06:06Estou de pleno acordo com o seu texto...
* Sobre Malafaia, ele precisa de um treinamento quanto a inteligência emocional... rsrsr...
*
Eu tentei me lembrar, mas não consegui, onde foi que vi um quadro estatístico que mostra que a violência contra homossexuais tem sua incidência maior exatamente no universo familiar... fico devendo...
*
Abraços!
Eliel
1 de março de 2010 06:08Realmente o programa do Ratinho é o menos adequado para um debate. Mas vc já parou para tentar entender que o publico alvo desse programa não tem tanta informação? Bom, sendo assim seria interessante algo para a ralé , para aqueles que ao menos sabe as profundezas desse tema, e nisso eu acho que foi interessante.
Eu não sou fà do Malafaia e vc sabe, mas penso que, se o espaço foi aberto pq não aproveita-lo?Mesmo não sendo fà do tal pastor, quero deixar aqui que o mesmo vem sendo sim, aprovado quando posto a prova em programas de TV, posso citar o bombaideio com os reporters da BAND num programa sobre Jesus Cristo.Enfim, penso que se esperarmos um local adequado talvez não tenhamos nenhum espaço.BRASIL É BRASIL..
Sobre quem venceu nas argumentações, eu penso que entendi um pouco dos 2,e acho que o Silas defendeu bem a posição evangelica da coisa, afinal, eles se juntaram contra nesse projeto de lei, e ai se embasaram para dar um NÃO a isso tudo, já a EX.Deputada ficou afirmando que os homossexuais são parte da exclusão social que ocorre no Brasil. Eu entendi que o Silas teve uma melhor oratória mais apurada, salvo que seu oponente não teve destreza em Para – lo com argumentos, e isso é inegável, Silas se deu MUITOOOOOOOOOO melhor.
Eu tendo a ser a favor do que o Silas e parte dos evangélicos estão apontando como aberração, pois em detrimento disso tem vários jogos de interesse, fazendo com que a liberdade de opinião seja negada aos brasileiros .
Penso que não só os gays , mas todos , devam ter liberdade de viver o que querem, mas acrescentar um tapa liberdade seria um retrocesso no Brasil .
Sou contra a pratica homossexual e nem por isso deixo de conviver e ter amigos gays, os que andam comigo sabem disso.
Por hora, acho que outros debates deveriam ser propostos, e já acho um grande avanço terem chamado o Malafaia pq pelo menos é oq eu articula de forma inteligente a posição evangélica, diferente dos péssimos debatedores cristãos que são chamados para debates na TV brasileira, é inegável a forma inteligente que o Silas tem, e eu gostei bastante da iniciativa de chama-lo.
A verdade e a seguinte essa senhora viu uma oportunidade de ser eleger, com os votos do Homossexualismo olha a quantidades de VOTOS, 1 milhão e 800 mil homossexuais no país, 10% da população segundo o calculo
1 de março de 2010 07:51Só uma correção Eliel. O Brasil tem aproximadamente 180 Milhoes de habitantes, se os homosexuais são 10% isso dá 18.000.000 da população e não 1.800.000.
1 de março de 2010 09:20Então aquele número de 0,00006 que você colocou ainda se torna menor. 0,000007. salvo engano
Abraço!
Olá Caitano,
1 de março de 2010 09:32Valeu pelo toque. Alteração procedida.
Obrigado!
Eliel
Meu caro, infelizmente a maioria das pessoas não têm a sobriedade que você demonstra neste texto.
2 de março de 2010 04:09Só posso lamentar.
Parabéns pelas palavras.
Abraço!
Caro Eliel,
5 de março de 2010 20:31O que penso é que, com todas as críticas que merece, o Malafaia foi um dos poucos que, com coragem, colocaram a cara a tapa para denunciar o absurdo do tal PLC 122. Agora que esse projeto perdeu um pouco da sua força, várias pessoas estão se levantando para condená-lo. Mas quem estava lá para apanhar primeiro? Não estou defendendo 100% Malafaia. Concordo com muitas das críticas direcionadas à ele. Só que acho que o que ele tem feito em relação a esse assunto é muito mais coerente com o evangelho do que os que pregam que a forma de amar um homossexual segundo cristo é tratando levianamente o homossexualismo. A forma de tratar um homossexual, essa sim, pode ser ponderada mas, isso não nega uma coisa: Na bíblia, homossexualismo é pecado!!! É imoral!!! E a igreja, deve denunciar isso livremente, ou então, ao invés de ser sal da terra, será mel do mundo.
A maneira de tratar o assunto "preconceito contra homossexuais", faz parecer que não importa a força de um argumento mas, se ele não privilegiar o homossexual, então é um argumento homofóbico.
A mesma coisa parece acontecer com o tema "aborto", tem uma multidão preparada para qualificar como "hipócrita" qualquer um que se mostre contrário, mesmo antes de considerar as argumentações.
Abraços,
Renato.
Eliel, sem entrar no mérito do desempenho do Malafaia neste debate (o qual tenho opiniões diferentes da sua, mas não vem ao caso), vou fazer uma pergunta, sem o propósito de provocar, mas de identificar:
7 de março de 2010 08:22Você se considera um liberal, teologicamente falando? Como você não acredita na total inerrância da Bíblia como um pressuposto incondicional, podemos chamá-lo de liberal?
Outra pergunta: quais são os autores teológicos com os quais você mais se influenciou?
É por ver coisas dessas que fico satisfeito e cada vez mais vejo que minha atitude de me desconectar completamente deste ambiente majoritário do evangelicalismo brasileiro, um fundamentalismo ( que está mais para gnosticismo do que cristianismo em diversos pontos) amalucado antiintelectual, monomaníaco e embotado. Atrofia o espírito das pessoas. E refurgita como fantoches o que os macacos chefes da direita sul-estadunidense herdeiros dos queimadores das Bruxas de Salém dita; o mais triste, é iconstatar que infelizmente é este o rosto do evangecalismo aqui, um inimigo do Brasil.
7 de março de 2010 16:06Porque esse mundão "evangélico" é completamente desqualificado em tratar destes temas de Direitos Humanos? Porque seu modo de ser e entender o cristianismo os faz completamente alheios e desvinculados de todos os âmbitos e personagens que se orientam na dedicação à luta pelos Direitos Humanos Políticos, Econômicos, Sociais e Culturais, e pela Justiça Ambiental; pelo contrário, frequentemente estão na contramão destes. Se arrebatar esse povo, não faz falta alguma pro mundo.
7 de março de 2010 16:09Postar um comentário